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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Serial Killers




SERIAL KILLERS: KISS ME OR KILL ME




Prólogo


Ali, admirando sua obra-prima, ele sorriu. Era só mais um de seus sorrisos sombrios, mas ainda assim um sorriso. O corpo de Jeff pendia pesadamente, enrolado em centenas de metros de fios de energia. Uma armadilha engenhosa da parte de Arthur, pois eram poucas as vezes em que o cara não se envolvia com o trabalho, preferindo causar um acidente ao invés de fazê-lo com suas próprias mãos. Na verdade, só se lembrava de mais dois assassinatos tão meticulosamente preparados para que ele não tivesse o trabalho de amordaçar e amarrar as vítimas. E, mesmo assim, a única pessoa com quem já se importou, a única que tentou enganar provocando dois assassinatos que seriam compreendidos como acidentes por qualquer investigador conseguiu descobrir que ele era o culpado. 
Mas que culpa
 Arthur tinha se esse era seu trabalho? 
Por mais que tentasse, não conseguia sentir pena alguma de suas vítimas, todas encomendadas pela
 rede. Foram muitas as mortes causadas por suas mãos, agora limpas ao invés de ensangüentadas como supostamente deveriam estar. 
Ele estendeu uma última olhadela para o corpo com uma coloração arroxeada, olhos pulando das órbitas e sangue coagulado escorrendo por quase todos os poros, e partiu, não suportando mais o cheiro de queimado que aquele lugar adquirira depois do “acidente” ocorrido. Afinal, Jeff era seu melhor amigo. Ele merecia um pouco mais de atenção, não?
 
Depois de deixar o lugar disfarçadamente, andando pelo lado sombreado da rua naturalmente escurecida pela meia-noite, precariamente iluminada pelos postes de luz,
 Arthur alcançou o seu carro estacionado à alguma distância do local: um Chevrolet Impala 1967 preto, seu único companheiro de todas as horas. Entrou e, antes de dar a partida, abriu o porta-luvas e de lá tirou uma caixa elegante que escondia em seu interior os seus charutos preferidos: os seus lendários Partagás série D4, raros e caros. Pegou um e acendeu, levantou-o aos lábios e tragou o gosto amargo e reconfortante, permitindo-se dois segundos de apreciação. Depois ligou o motor que ronronava de um jeito que o fazia sorrir de satisfação. Seguiu o seu caminho, apreciando as duas coisas que mais gostava de fazer, além de sexo e assassinatos. 



Lua’s point of view


Ele estava lá. Tinha um brilho tenebroso no olhar, algo similar à loucura, e apontava um revólver em direção à minha cabeça. Por que diabos sempre apontava um revólver para mim? Poderia usar uma faca, como em seus assassinatos memoráveis, ou colocar uma corda ao redor do meu pescoço, enquanto eu estivesse sustentando meu peso em pé em um banquinho, que ele tiraria dali quando quisesse me matar. Poderia até mesmo aproveitar o fato de estarmos em uma cozinha – a cozinha da minha antiga casa – e deixar o gás escapando do fogão, com um dispositivo pronto para pegar fogo e se autodestruir em seguida que seria acionado a qualquer momento, causando a grande explosão, do mesmo modo que ele matou os meus pais. Não. Era sempre um revólver. Como se eu não merecesse uma morte bem planejada como fora a dos meus pais.
 
Ele me fitou com seus olhos
 Castanhos envolventes e diabólicos e sorriu. Um sorriso tão frio quanto o revólver que agora tocava minha testa. Amarrada à uma cadeira, mantive a expressão despreocupada, pois sabia o que aconteceria no final. Era sempre a mesma coisa. Sempre a mesma morte sem dor, antes que eu finalmente acordasse do pesadelo, suada e ofegante. Então algo diferente das outras vezes aconteceu. Ele falou. Não era do seu feitio pronunciar qualquer coisa quando ameaçava me matar daquela maneira. O cara simplesmente sorria e bum, mal feito, feito. Mas o que eu temia aconteceu finalmente. Ele falou. 
– Não sei se deve continuar me procurando, bonequinha – disse à meia voz, deixando um sorriso maléfico tomar os seus lábios. – Pode ser perigoso. – terminou, aumentando o sorriso no final e me causando calafrios.
 
– Já lhe disse que não vou desistir. Não disse? E, a propósito, não precisa ficar com medo. Sei me cuidar muito bem – retruquei, com a voz inocente de uma menininha. Eu sabia que ele notava quando eu falava assim.
 
– É estranho – emendou, quase sem esperar que eu terminasse. – Você consegue não ter medo de mim na vida real, mas tem medo de mim em seus sonhos – fez uma expressão muito convincente de confusão.
 
– Não estou com medo – menti. Ele riu azedo.
 
– Hum – disse rouco e baixou o revólver, fazendo o meu coração acelerar, amedrontado pela mudança.
 
– O que vai fazer? – perguntei quando a situação não se alterou.
 
– Matar você como sempre – disse, fazendo pouco caso.
 
– Então por que não vai logo? – perguntei impaciente e levemente assustada.
 
– Por que tanta pressa? – perguntou, franzindo as sobrancelhas interessado.
 
– Esqueceu? Não posso perder tempo sonhando, quando na vida real tenho que achar
 Arthur Aguiar, mais conhecido na rede como Chuck Norris. Sei o quanto é difícil encontrar você e dessa vez não posso esperar muito. Tenho que seguir as pistas, enquanto outros não chegam antes de mim – esclareci. Ele me fitou e um sorrisinho cínico tomou os seus lábios. 
– E por que dessa vez é diferente? – perguntou.
 
– Por que dessa vez o motivo mudou. Poderia me matar logo de uma vez? – apressei, agora ansiosa.
 
– Claro – disse, mas não levantou o revólver. Ao invés disso, aproximou o rosto da minha orelha e pressionou com a língua desde o meu pescoço até o lóbulo, causando-me arrepios inevitáveis. – Com todo o prazer – sussurrou ao pé do meu ouvido, descendo uma das mãos por meu ombro e alcançando o meu seio, apertando suavemente por cima da roupa. Ele desceu a mão dali para minha intimidade e acariciou o local por cima do jeans, fazendo-me arregalar os olhos e tentar afastá-lo, sendo impedida pelas cordas que me amarravam à cadeira. Ele então sorriu de canto e em seguida atirou em meu peito, acertando provavelmente o coração. Porém, como sempre, eu não senti dor. Apenas acordei sobressaltada e suando em bicas.
 
Fechei os olhos e me joguei contra os travesseiros, percebendo quão excitada aquele último momento do sonho me deixara, e tentei relaxar. Tateei pelo criado-mudo ao lado da cama até encontrar meu celular. Eram quase seis da manhã, apesar de o céu ainda estar escuro do lado de fora das janelas do hotel. Levantei-me da cama com um gemido de desgosto, só por ainda sentir um formigamento se estendendo do lado esquerdo do meu pescoço até a orelha, e segui para o banheiro, onde tomei um banho quase frio para me despertar.
 
Quando voltei ao quarto, enrolada por uma única toalha branca do hotel, percebi um volume se movimentando preguiçosamente na cama por entre os lençóis de algodão ao lado de onde eu dormira. Então, agradecida, fui até lá e me juntei ao rapaz de quem eu nem me lembrava do nome, que se arrepiou por inteiro ao toque gelado da minha pele. Ele se virou para mim e abraçou minha cintura, percebendo que apenas uma toalha separava os nossos corpos. Quando a removeu e lançou o corpo quente por cima do meu, eu estava agradecendo por ter algum desconhecido em minha cama numa manhã difícil como aquela. Alguém para sanar, mesmo que temporariamente, a minha excitação indesejada.
 
Afinal, como não me excitar quando sonhava com
 Arthur? 
Eu vou explicar por que isso seria impossível.
 


Flashback


Acordei sozinha em meio à garrafas vazias de uísque. Na noite anterior, estávamos eu e
 Arthur, tão loucos depois de tanta provocação mútua na festa da Julianne, minha melhor amiga, que não conseguimos alcançar a cama. Fizemos ali no chão mesmo e todas aquelas garrafas estavam ali desde as últimas noites que passamos juntos. Estávamos juntos, namorando ou sei lá o que, havia dois meses. É claro, eu o amava. Mesmo duvidando que ele retribuísse o sentimento, eu continuava fazendo todas as suas vontades e com muito prazer. 
Arthur era o tipo de cara que qualquer garota, especialmente uma como eu, desejaria. Eu disse desejaria e não amaria. Ele era extremamente fofo quando queria, mas às vezes fazia coisas estranhas, como sumir no meio da noite que nem agora. Eu o amava, sei lá por quê. Talvez essas alterações de personalidade me atraíssem. Não sei.
 
Foi com muita dificuldade que me levantei, com o corpo levemente dolorido pela acomodação pouquíssimo confortável do carpete, e puxei um dos lençóis no chão para me enrolar, já que estava completamente nua. Fui até o banheiro para ver se ele estava lá, mesmo sabendo que não estaria, e aproveitei para fazer a minha higiene matinal. Eram mais de três horas da tarde quando cheguei à minha casa, mas havia algo estranho acontecendo.
 
O carro dos meus pais estava na garagem em plena segunda-feira à tarde. Teriam eles faltado ao trabalho na empresa? Bem, sendo os proprietários dela, imaginei que não fosse nada demais, apesar de ser um tanto quanto incomum. Peguei a chave no bolso da calça e abri a porta, quando um cheiro forte de gás tomou minhas narinas.
 
– Mãe? Pai? – chamei, não obtendo resposta. Com o coração batendo forte, chamei novamente, dessa vez mais alto. – Mãe! Pai! Onde vocês estão? – e corri em direção à cozinha, suspeitando do cheiro forte de gás.
 
Quando estava prestes à chegar, uma voz grave conhecida chamou o meu nome ao longe. Aparentemente do lado de fora da casa,
 Arthur me chamava. Corri, preocupada e esperando um esclarecimento, para o lado de fora. Ele estava lá e tinha uma expressão muito preocupada no rosto, o que me alarmou. Correu até mim. 
– Não pode entrar aí. Vai... Vai explodir a qualquer momento! – ele disse, segurando o meu rosto entre as mãos.
 
 Arthur, não consigo achar os meus pais! O carro deles está na garagem, então devem estar lá dentro! Preciso entrar. Vamos! – eu disse, mas então ele segurou firme em meus braços e me impediu de sair de perto dele, que se manteve imóvel. 
– Não. Você não. Eu... Não consigo. Não posso deixar que... Não! – disse e então percebi, pelo seu tom confuso, que falara consigo mesmo.
 
 Arthur, explique-me o que está acontecendo! Solte-me. Preciso ir ver meus pais. Tem um cheiro muito forte de gás lá dentro e... 
– Não! – ele gritou. E então aconteceu. Uma explosão destruiu minha casa e nos arremessou no ar. Caí a alguns bons metros de distância de onde, anteriormente, minha casa estivera, completamente desacordada.
 
Fiquei em coma por meses e, quando acordei, descobri que não havia registros de ninguém chamado
 Arthur David Forbes, nascido em quatorze de janeiro. Havia apenas um, chamado Arthur Aguiar que me chamou atenção. Era uma pessoa fantasma. Não havia fotos dele em lugar algum nos registros, nem local de moradia ou telefone para contato. A única coisa que consegui descobrir sobre ele foi o nome de sua mãe, senhora Monique Aguiar, que morava a duas mil milhas da minha cidade. Resolvi então, sem família alguma para me prender, já que era filha única e meus pais haviam morrido na explosão, partir em busca dessa mulher para obter mais informações sobre esse tal Arthur Aguiar. 
No fundo, eu sabia que
 Arthur tinha culpa no cartório. Dando-me um nome falso, não querendo conhecer meus pais, nunca dizendo muitas coisas sobre ele e além de tudo... Atraindo-me para fora da minha casa, sabendo que haveria uma explosão a qualquer momento. Mas, por falta de certeza da culpa de Arthur, sendo ele Aguiar ou Forbes, eu ainda tinha uma centelha de esperança de que ele apareceria e me beijaria ternamente e, rindo da minha cara, achando engraçada toda essa minha desconfiança absurda, me daria certeza de que não estava envolvido com a morte de meus pais. Mas não aconteceu. 
A mãe do tal
 Aguiar me deu a descrição idêntica de Arthur e disse que fazia muito tempo que não o via. Porém me deu uma pista: Um bilhete que ele deixara antes de fugir. Ele dissera, no curto bilhete, que não haveria motivo para se arrepender da fuga enquanto ele tivesse seu Impala 67 e charutos no porta-luvas. 
É claro. Um Chevy Impala 67 é raridade. E, graças a Deus, só havia um
 Arthur Aguiar que possuía esse carro em todos os Estados Unidos. 


Atualmente


E, desde então, tenho perseguido
 Arthur. Cada pista, ou seja, cada morte com sua assinatura era um passo mais perto. Já o encontrei antes. Mas, como sou uma pessoa muito burra, não tive coragem de matá-lo como deveria fazer. Ele merece, não? Matou os meus pais. Só que, dessas diversas vezes em que o encontrei... Bem, nós sempre conseguimos, de alguma maneira, não matar um ao outro e ele sempre acabava fugindo. Como sempre. E dessa vez... 
Dessa vez, depois de muitas pistas falsas, muito tempo de procura, muitos dias acordando cedo e dormindo tarde, tenho quase certeza de que estou em seus calcanhares. Aquele filho da... Bem, a senhora
 Aguiar já morreu, então penso que ela não vá se importar... Aquele filho da puta não me escapa dessa vez. Vou matá-lo e finalmente vingar a morte dos meus pais. Vou fazê-lo se arrepender de cada inocente vítima que matou, fazê-lo se arrepender de ter nascido. Porque dessa vez tenho outro motivo para ir atrás dele e acabar com sua vida. Ele fez algo que não é permitido pela rede. Roubou milhares de dólares em cristais do cofre na casa de Fleür Desjardins. 
Você deve estar se perguntando como sei de tudo isso.
 
Eu sou um deles. Trabalho para a
 rede, assim como Arthur. Rede de assassinos, psicopatas, serial killers, sempre mortíferos e incapazes de sentir qualquer coisa. Arthur é um dos serial killers mais perigosos da rede. Ele consegue, com mais de centenas de pessoas mortas por ele, não ser suspeito de nenhum dos assassinatos. Por sempre agir à noite, sempre atraindo suas vítimas para o local do assassinato, verificando antes se há alguma câmera ali perto, aproveitando para agir em dias frios, em que a maioria das pessoas dormem cedo, e certificando-se de que não há ninguém que passe por ali naquele determinado horário, nunca é visto por ninguém. Seu carro, bem, é uma boa pista e é por isso que na maioria das vezes o estaciona longe do local. Em seus assassinatos, não há gritos. Há componentes da rede que dizem que é porque ele rompe as cordas vocais das vítimas antes de matá-las e há outros que dizem que as faz dormir até o momento de morrer. Assim, quando acordam, não tem tempo de assimilar o que está acontecendo antes de sentirem a lâmina fria de sua faca atravessando-as no peito. Prefiro acreditar que ele amedronta tanto suas vítimas, com seu olhar gélido e sorriso diabólico, que todos perdem a capacidade de pensar, paralisados pelo medo. Talvez eu esteja errada. Talvez ele corte mesmo as cordas vocais das vítimas. Afinal, é bem a cara dele. 
Mas tenho que admitir: depois de tanto tempo procurando, matar sem ver o sangue escorrer após o tiro, agora não me fere mais pensar em vidas perdidas, pessoas que morrem por ordem de alguém. Qualquer um se acostumaria, tendo de levar essa vida de desgraças, mesmo sabendo que há uma luz no fim do túnel. No meu caso, a luz no fim do longo e sombrio túnel é a morte de
 Arthur. 
E, de tantas vezes que tentei e não consegui, dessa vez tenho plena certeza de que nenhum dos planos dele vai me convencer a não matá-lo. Vou fazer o que tenho que fazer. Vou me vingar e depois ficarei com os diamantes. Além de nunca mais precisar trabalhar, nunca mais precisarei me preocupar com
 Arthur Aguiar. Parece perfeito para mim. 
Quando deixei para trás o hotel e meu último brinquedinho sexual, que me lembrei se chamar Michael, dirigindo rápido demais para alguém com ressaca, segui direto para a casa de onde os diamantes foram roubados. Com uma identidade falsa e um distintivo tão verdadeiro quanto a identidade que me nomeava Jordan Sparks, detetive do FBI, consegui entrar na casa e conversar com a senhora Desjardins. Ela tremia dos pés à cabeça e preferiu se sentar na cadeira ao lado da lareira quando pedi-lhe que me contasse sobre o furto. Então ela me mostrou um jornal. Talvez estivesse impossibilitada de falar.
 
Nele, a primeira página dizia:
 
Fortuna centenária dos Desjardins foi furtada. 
Eram mais de 150 milhões de dólares em diamantes e cristais preciosos. O ladrão não poderia ser mais discreto (...). O fato mais interessante é que o roubo ocorreu uma noite após a morte de Gerard Desjardins, que teve o peito perfurado uma única vez, acertando diretamente no coração, por uma faca que foi encontrada no local sem apresentar digitais ou qualquer pista de quem tenha sido o culpado, assim como no furto dos diamantes (...).
 
Porém, a notícia que me chamou atenção foi outra. O título dizia:
 
Jeffrey Morrison, colunista do nosso jornal há quase dez anos, foi encontrado morto. 
E o restante só ficou mais interessante.
 
Jeffrey era um dos colunistas mais conhecidos no estado, ficando atrás apenas dos próprios textos conhecidos pela quantidade de criatividade e elegância com as palavras (...). Morrison estava trabalhando durante a tarde, saindo do escritório no horário de sempre, e foi encontrado eletrocutado acidentalmente por um rolo de fios elétricos numa fábrica de objetos eletrônicos. Não se sabe o motivo de Jeffrey ter estado lá e não havia ninguém próximo ao local durante o acidente, confirma o sistema de câmeras da fábrica. O único presente, senhor Adolf Hacher, o segurança, afirma que havia monitoramento vinte e quatro horas e nenhuma das câmeras mostrou qualquer movimentação estranha, o que o faz acreditar que o acidente ocorreu no período entre meia-noite e uma hora da manhã, horário em que o senhor Hacher fez uma pausa para se alimentar. Não há explicações para o que ocorreu, exceto que Morrison acidentalmente se enroscou na fiação e foi eletrocutado até a morte (...). 
– Senhorita Sparks? Detetive! – chamou-me a velhota impaciente. Então ela podia falar. Só não queria. Interessante.
 
– Sim, senhora Desjardins? – fitei-a, fingindo curiosidade.
 
– Eu estava perguntando se não aceita uma xícara de chá? – perguntou com a voz rouca e falha de qualquer velhota de sua idade.
 
– Ah, não. Obrigada. Na verdade, acho que a matéria do jornal é o bastante! Posso começar as investigações logo. Aliás, minha equipe cuidará disso para a senhora. Muito obrigada por me receber! – disse, levantando-me e seguindo para a porta por onde entrara.
 
– Oh, sim. De nada. Diga ao seu amigo, Detetive Wering, que aprecio a atenção por ter enviado outra detetive para o meu caso! – ela disse, a voz subindo uma oitava. Quem sabe a velhota não queria se casar de novo, agora com um detetive?
 
– Claro. Não sei quem ele é, porém procurarei para passar o recado. Obrigada mais uma vez e até... Logo! – disse e saí. Sem mais delongas, dirigi até o local onde o jornal informava que ocorrera a morte de Jeffrey Morrison. O nome era bastante familiar e talvez fosse por que ele era colunista, mas eu tinha certeza, pela falta de suspeitas do jornal, que aquela morte fora causada por
 Arthur. Como costumava dizer, eu reconhecia um crime cometido por Chuck Norris quando via um. 
Dessa vez, eu estava perto demais em seu rastro e tinha certeza de que em poucas horas o encontraria.
 


Arthur’s point of view


Apenas o barulho dos meus passos ritmados era ouvido no corredor. Não havia uma única alma acordada em todo o prédio e o silêncio confortável de sempre me acolhia como uma águia, abrindo suas asas e se jogando ao vento, acolhendo-o entre suas penas. Uma águia negra como a noite.
 
As chaves tilintavam em minhas mãos até que as usei, experimentando uma a uma, graças à habitual falta de costume com chaves que mudavam à cada hotel, para abrir a porta do apartamento. Entrei e virei as costas, ficando de frente para a porta para trancá-la. Então senti. Havia algo estranho. Havia um cheiro conhecido de sangue tomando o ar dentro do aposento. Virei-me novamente e vi, deitado no chão, meu cachorro sem nome com uma adaga de punho branco cravejado de cristais e rubis cravada nas costelas. Havia um bilhete no chão ao seu lado.
 
Peguei a pequena folha entre os dedos e li:
 Encontre-me no depósito de armas número oito. E traga minha adaga. É claro que eu reconhecia aquela adaga. Era a mesma que um dia fora cravada na minha coxa direita, centímetro por centímetro, da última vez em que Lua Blanco me encontrou. Ela queria mesmo continuar aquele joguinho idiota. 
Deixando propositalmente a adaga ensangüentada para trás, parti para o depósito secreto de armas da
 rede, o depósito número oito, como o bilhete pedia. Ficava a apenas duas quadras do local, contudo preferi não deixar meu Impala para trás, aproveitando para pegar um charuto no porta-luvas e colocá-lo no bolso da jaqueta quando cheguei ao destino. Entrei no recinto, olhando para os lados, à procura da silhueta delicada e dos cabelos macios de Lua, inevitavelmente ansioso para vê-la. Fazia o quê? Dois anos desde o último encontro? Talvez, dessa vez, ela desistisse daquela tolice de vingança. Ela sabia que eu estava fazendo apenas o meu trabalho quando matei os pais dela. Na verdade, eu deveria ter matado os três Blancos, mas preferi salvá-la. É claro, porque a amei, mesmo que no início tivesse me envolvido com ela só para conhecer a rotina da família e montar o meu plano. O problema começou quando a moça quis que eu os conhecesse. Tentei fugir, mas não consegui deixá-la e acabei sucumbindo aos seus encantos, deixando que ela concretizasse seu sonho adolescente de apresentar o cara dos seus sonhos aos seus pais. Complicou meu trabalho ter que formar uma armadilha para não me envolver com o crime. 
Tomei o cuidado de deixá-la longe dali, assim eu deixaria seus pais desacordados na cozinha enquanto ligava o gás e preparava o
 Isqueiro. O Isqueiro era um dispositivo que colei a uma das paredes que soltaria faíscas no momento em que alguém girasse a maçaneta da porta da cozinha e se autodestruiria depois para que ninguém encontrasse a verdadeira causa da explosão. O plano inicial seria que, no momento em que ela chegasse e girasse a maçaneta, morreriam os três, porém fiz questão de fugir do plano inicial, deixando o senhor e a senhora Blanco desacordados no chão da cozinha por algumas horas. Quando eles acordassem e tentassem deixar o local embevecido em gás, tudo explodiria. Mas então deu tudo errado. 
Eu estava esperando no meu Impala quando vi a garota que amava chegar. Ela tinha que aparecer. Fiquei me segurando, tentando deixar que tudo ocorresse como o planejado, porém não suportei a idéia de deixá-la morrer e fui chamá-la. Eu sabia que os seus pais estariam acordando em segundos.
 
Mesmo tendo salvo
 Lua Blanco, sabia que não seria seguro para mim ficar por perto. Aquela garota era minha fraqueza e, se eu permitisse sua entrada em minha vida, minha carreira estaria perdida. E, é claro, no momento aquilo era a coisa mais emocionante da minha vida. Agora ela me perseguira por todos esses anos e por mais que eu tentasse me livrar dela... Sempre deixava um fio solto, alguma pista evidente, esperando que a moça me encontrasse. Não sei por quê. 
– Chegou cedo – ouvi sua voz melodiosa soar por trás de mim, mas, antes que pudesse me virar, uma mão feminina apertou um tecido com cheiro forte de clorofórmio em meu nariz, o que me fez apagar quase instantaneamente.
 
Acordei algum tempo depois e, para minha infelicidade, eu estava amarrado à uma cadeira, com uma lâmpada acesa alguns metros acima da minha cabeça clareado todo o círculo em que eu estava. Sozinho.
 
 Lua, apareça. Se quiser me matar mesmo, faça isso olhando em meus olhos – ordenei à escuridão. De imediato, uma voz estridente soltou uma risada de deboche. Segundos depois, ela deu dois passos à frente, demarcados por saltos, e pude vê-la claramente. 
Seus cabelos estavam pelo menos um palmo e meio mais longos do que da última vez e caíam em cascata sobre seus ombros. Ela era mesmo linda. Seu rosto tinha um ar bastante satisfeito. Seus olhos misteriosos agora demonstravam o quanto ansiava por aquele momento. Talvez tanto quanto eu. Pena que estaríamos para sempre presos numa disputa de vida ou morte, perseguição e fuga.
 
– Olá,
 Chuck. É sempre um prazer revê-lo – disse ironicamente. Fitei-a dos pés à cabeça descaradamente como das outras vezes. 
– Eu que o diga. É só impressão minha,
 Luinha, ou você está ficando cada vez mais gostosa? – perguntei com um meio sorriso safado no rosto. Uma sombra passou por sua face, como uma lembrança indesejada. Coisas que eu sabia que podia causar nela sempre que quisesse. Ela rompeu o espaço entre nós e se apoiou com as duas mãos nos descansos de braços da cadeira, por cima dos meus braços amarrados ali. A aproximação me fez sorrir ainda mais. 
– É impressão minha, Chuck, ou você ainda pensa que tem chances? – ela perguntou com o rosto a três centímetros do meu.
 
– Você devia parar com essa de me provocar,
 Luinha. Sabe que não suporto quando você se exibe para mim desse jeito – eu disse, quase conseguindo lhe roubar um beijo, mas ela se afastou rapidamente e riu sarcástica. 
– Ok, então. Talvez você prefira isso – sentou-se de frente para mim em meu colo, colocando uma perna para cada lado do meu corpo e tirando um revólver das costas da calça, apontando-o para a lateral da minha cabeça com uma das mãos e acariciando meu rosto com a outra. Senti meu sangue pulsar com urgência em meu órgão genital no mesmo momento. – E agora, está melhor? – perguntou com uma voz angelical. Bufei irritado.
 
– Vai mesmo me matar dessa vez ou vai ficar brincando de novo? Estou com um pouquinho de pressa. Sabe? Alguém matou o guardião do meu patrimônio. Preciso de outro com urgência – disse, respirando fundo para tentar controlar a excitação que começava a se manifestar por baixo da minha calça. Eu ficava excitado com ela, mas a moça não precisava saber disso. Por enquanto, ficaria só nas palavras mesmo.
 
– Ah, o seu cãozinho? Aliás, onde está minha adaga, Chuck? – perguntou com uma naturalidade surreal, como se não estivesse apontando uma arma para minha cabeça nem sentada em meu colo. Não que nada disso me desagradasse. Era até divertido.
 
– Se quiser ir buscar comigo... Posso mostrar o restante do apartamento, como, por exemplo, o meu quarto. A cama tem colchão d’água. Fazer sexo nela é uma experiência memorável – eu disse, não conseguindo não imaginar o episódio, o que piorou a situação da minha ereção por baixo do jeans.
 
– Não. Obrigada. Esta noite você acaba aqui,
 Aguiar. Não vai mais a lugar algum – ela disse depois de um suspiro significativo. – E não vai matar mais ninguém. 
– Eu adoraria passar a noite com você aqui,
 Lua, mas estou cansado dos seus joguinhos – zombei. – Se for possível ir direto ao ponto, eu agradeceria. Se não, pode fazer o favor de me soltar? – pedi com o rosto um pouco mais próximo do seu, sentindo a pressão da boca do revólver em minha orelha aumentar. 
– Ok. Vou direto ao ponto, então. Sabe, Chuck, o que você fez foi uma coisa muito feia. Roubar aqueles milhões do cofre de uma pobre viúva como a senhora. Desjardins? E ainda mais: pouco depois de você mesmo ter matado o senhor Desjardins? Algo surpreendente, porém estranho. Até onde sei, a
 rede não permite roubos. Permite? – Lua ajeitou o corpo sobre o meu, de modo que minha ereção estava a poucos centímetros de sua intimidade. Um pouco mais próxima e ela poderia sentir. 
– Não. Mas não sou conhecido como Chuck Norris à toa,
 Luinha. Incriminei alguém no meu lugar, é claro. E ele já está morto. Jeffrey Morrison, o único cara que sabia quem era o Arthur Aguiar por trás da máscara de Chuck Norris. Ele até escrevia sobre um serial killer apelidado assim em suas colunas, porém devo admitir que o cara era tão bom em esconder evidências quanto eu. Ninguém, além de mim, sabia de quem ele realmente estava falando. Então, só para ele não saber que eu o estava matando, tive que lhe causar um acidente. Foi trágico, contudo foi para o bem. 
– O bem? Ele era seu melhor amigo!
 
– Meu único amigo, benzinho. Além de você, é claro... Minha amiguinha colorida – eu disse e vi seu rosto demonstrar uma centelha de humor real. Ela se lembrava, é claro.
 
– Você não tem mais o direito de me chamar assim – disse, de repente sombria.
 
– É claro que tenho. Nunca terminamos o nosso caso. Você continua sendo minha amiguinha colorida – provoquei e vi seu rosto ser tomado por fúria.
 
– Então temos que resolver isso. Estamos terminando. Agora. Pronto. Você não pode mais me chamar assim – ela solucionou com a inocência de uma criança brilhando no fundo de seus olhos. A mesma inocência que me atraíra tanto tempo atrás. O motivo por eu ter me apaixonado por ela. Depois de tantas coisas... A moça ainda o tinha, aquele brilho encantador.
 
Fechei os olhos e controlei minha mente, impedindo-a de voltar mais e mais no tempo.
 
– Arrependido?
 
– Nunca me arrependo – disse seco, ainda de olhos fechados e queixo travado.
 
– Espero que não, porque assim me sinto cada vez mais à vontade com relação a matá-lo. Porém, esta noite quero algo mais. Um tesouro, talvez. E você vai me dizer onde esconde o seu – ela disse e se aproximou ainda mais, sentando-se em cima do meu ponto de prazer e me fazendo revirar os olhos, furioso com o domínio que ela exercia sobre mim sem saber.
 
– Isso você já deve saber. Está sentada em cima – eu disse entre dentes. A moça riu com verdadeira energia.
 
– Uau! Veja o que temos aqui... – ela movimentou os quadris de frente para trás por cima da minha ereção, fazendo-a se agravar quase de imediato e soltando outro riso. – Mas você sabe,
 Arthur... Não é desse tesouro que estou falando... 
– Pare! – disse irado.
 
– Não... Até você me dizer onde estão os diamantes, amorzinho... – sussurrou, encarando-me com cara de sapeca e me fazendo delirar enquanto se movimentava em cima de mim. Lutei contra um gemido e gargalhei, empurrando em seguida meu tórax em direção ao dela até onde as cordas me permitiam e provocando sua intimidade com o volume bastante rígido por baixo das minhas calças. Ela gemeu, provocando-me ainda mais.
 
– Vai precisar de mais do que isso – eu disse, voltando a me encostar à cadeira e ignorando com dificuldade seus movimentos circulares e de vai-e-volta em meu colo.
 
– Seu autocontrole é péssimo,
 Arthur. Sei disso – ela sorriu maliciosamente. – E posso fazer mais do que isso. Muito mais – declarou, em seguida descendo sua mão livre para o volume em minhas calças e o pressionando antes de movimentar os dedos em conjunto por toda a extensão do meu órgão por cima do tecido grosso. Olhei-a furioso enquanto me segurava para não soltar um gemido. – Onde estão os diamantes, hein? 
– Ei... Você sabe como abrir um zíper de calça jeans. Não sabe? – perguntei cínico. Foi a vez dela de me fulminar com os olhos.
 
– Ok... Utilizaremos métodos mais eficientes – ela parou seus movimentos e tirou a mão dali, removendo o revólver da minha orelha e o descendo para lá. – Diga onde estão os diamantes agora ou seu amiguinho aqui morre antes que você – disse e seu tom sério chegou a me assustar.
 
– Para que você os quer? – perguntei, tentando mudar de assunto.
 
– Para que você seja minha última vítima – ela disse simplesmente e pressionou um pouco mais o revólver. – Desista. Talvez ainda acredite que eu não tenha coragem de matá-lo... Mas sabe que atirar em algo que você chama de tesouro é extremamente mais fácil – sorriu docemente, totalmente contrária à pressão que o revólver em sua mão fazia contra mim.
 
– Certo. Se me soltar, levo você até lá – tentei negociar.
 
– Não! Chega,
 Aguiar. Ou me diz agora, ou vai morrer por hemorragia – ela disse e havia uma dose inconfundível de indecisão em sua voz. Sorri quase vitorioso. 
– Muito bem... Eu disse que você havia matado o meu guardião... O que acha que ele guardaria dentro de um quarto de hotel? – perguntei, vendo o brilho ressurgir em seu olhar confuso. Ela sorriu vitoriosa.
 
– Muito original. Deixe-me adivinhar: o seu cachorro não tinha nome? – a moça investigou.
 
– Não.
 
– Ainda bem. Gostaria de enterrar o coitado, já que não teve culpa de nada, mas já que é um indigente... Não vou me sentir mal em apenas me livrar do corpo – disse, levantando-se do meu colo e baixando o revólver.
 
– Vou confirmar a localização do tesouro e volto assim que puder. Não tente nada. Pode haver uma armadilha esperando por você – ameaçou, mantendo o sorriso em seus lábios.
 

Quando
 Lua chegou ao apartamento, entrou da mesma maneira de antes, usando um grampo, e começou a procurar ao redor por algum sinal de cofre ou esconderijo secreto. Então, depois de algum tempo de procura sem sucesso, começou a pensar que Arthur mentira. Tomada de fúria, abriu a porta por onde havia entrado, na intenção de tirar satisfações com seu refém, quando deu de cara com o próprio de pé diante da porta. 
– Achou? – ele perguntou, sorrindo de canto.
 Lua precisou recuperar o fôlego perdido com a surpresa. 
– C-como conseguiu... Fugir? – perguntou confusa. Lembrava-se dos incendiários com sensores de movimento que ela instalara por todo o local, caso
 Arthur conseguisse se soltar. Somente ela sabia que caminho tomar para não pegar fogo ao menor movimento. 
– Os incendiários eram ótimos, porém vi o caminho que fez ao sair. E eu tinha que aproveitar a chance de vir atrás de você e pegá-la de surpresa. Assim como você sempre faz comigo – ele disse. Havia algo em sua voz, em seu jeito, até no modo como sorria a cada palavra, que havia mudado. Agora sorria de verdade, e não mais aqueles sorrisos frios de sempre.
 
– Os incendiários... As cordas... Você... – ela não conseguia colocar cada pensamento em ordem e pronunciar as palavras. Estava em pânico. Estava vulnerável. Seus encontros com
 Arthur depois do acidente causado por ele aos seus pais eram sempre de alguma maneira sob seus domínios e agora o cara estava ali, de pé diante dela, livre para agir como quisesse. 
Lua rapidamente sacou sua pistola e apontou diretamente para a testa de
 Arthur, que sorriu abobalhado com a cara confusa e amedrontada dela. 
– Dessa vez, sem armas – ele disse e segurou o cano do revólver, puxando-o da mão da garota que não ofereceu resistência. Descarregou a arma, deixando as balas caírem ao chão, e depois jogou o revólver para dentro do apartamento, aproximando-se e forçando
 Lua a entrar. Fechou a porta às suas costas e se aproximou ainda mais dela. – Sei por que você não é nem nunca foi capaz de me matar – disse e tirou a jaqueta de couro preto, pendurando-a num dos ganchos presos à porta. Só então, graças à camiseta preta apertada de Arthur, Lua pôde observar que estava bem mais musculoso do que antes. Tinha um corpo ainda mais sexy do que quando, anos atrás, ela se apaixonou por ele. 
– E por que você acha que não posso matá-lo? – ela perguntou sem se mover um centímetro quando ele deu outro passo em sua direção, quase colando seus corpos.
 
– Como poderia matar alguém que você ama? – ele disse e suas mãos foram à cintura de
 Luinha. Ela não tentou se livrar de seu toque. 
– Eu não amo você. Nunca amei – mentiu, sentindo seu corpo inteiro se arrepiar quando
 Arthur olhou profundamente em seus olhos. 
– Ama, sim. Ama da mesma maneira que amava antes. Ama do mesmo jeito que eu a amo – sussurrou a última frase ao pé de seu ouvido.
 
Tomada pelo choque,
 Lua soltou o ar preso em seus pulmões e inalou o perfume amadeirado suave que fluía do pescoço de Arthur. 
– E como tem tanta certeza? – ela perguntou, tentada a agarrá-lo, graças àquele perfume cativante.
 
– Vejo em seus olhos. Ter me deixado vivo e sem nenhum arranhão hoje novamente só prova que é impossível se vingar de mim. Porque me ama. Assim como foi impossível deixar você morrer naquele dia, quando a vi tão próxima da morte. Eu não suportaria perdê-la. E já não havia como salvar seus pais, então salvei você. Porque eu a amo.
 
– Mas você desapareceu. Deu-me um nome falso. Fez-me sofrer. Você,
 Arthur Aguiar, nunca me amou – Lua disse, desviando os olhos dos dele. 
– Sempre amei, porém esse sempre foi meu trabalho. E eu não podia me envolver. E não lhe dei um nome falso. Não completamente – ele esclareceu.
 
 Arthur é só seu primeiro nome. Eu podia nunca mais saber de você – ela disse. 
 Arthur é o nome do meu pai, que foi assassinado por um componente da rede quando eu tinha nove anos. Foi o que me encaminhou a descontar minha raiva em outras mortes, incluindo a do assassino do meu pai. Um cara chamado Joseph Blanco, seu pai. Eu havia prometido matar toda a família, mas me apaixonei por você. O destino cruzou nossos caminhos da maneira mais inimaginável. Não acha? – o cara disse e sentiu um peso cair de seus ombros. Lua fitou seus olhos por longos segundos, vendo neles a comprovação de que tudo que foi dito era a verdade. 
Então ela o abraçou forte. Lágrimas escorreram por seus olhos, acompanhadas de um sorriso aliviado. Finalmente o esclarecimento pelo qual tanto esperou vindo diretamente de
 Arthur. 
– Por que nunca me contou? – a moça perguntou, limpando as lágrimas com as costas das mãos. Ele evitou sorrir do jeito que
 Luinha secava os olhos. 
– Porque nunca tive certeza de que devia. Afinal, ainda achava que você pudesse me matar. Desculpe-me,
 Lua. Eu não queria ter lhe causado tanta dor – confessou. E sentiu, no fundo da alma, o sentimento que nunca sentira antes: o arrependimento. – Eu queria poder ter voltado atrás antes. 
– Por favor, pare de falar – ela implorou e o beijou, envolvendo seu pescoço com as mãos.
 


Lua’s point of view


O beijo trouxe do passado todas as memórias que eu tentava, inutilmente, apagar. O perfume dele inebriava minha mente e confundia os meus sentidos, fazendo-me perder a noção de quanto tempo aquele beijo durou. Deixei escapar um gemido baixo, mordendo o lábio inferior dele, quase implorando por mais.
 
– Aquilo que você disse sobre o colchão d’água era verdade? – perguntei, agora me questionando se dessa vez daria tempo de alcançar a cama.
 
– Experimente você mesma – ele disse com um sorriso galanteador e me guiou, capturando novamente meus lábios entre os seus, até seu quarto e a cama.
 
Quando me deitou sobre ela, a sensação era ótima. Porém o simples fato de
 Arthur Aguiar estar por cima de mim me fez esquecer todo o resto. Suas mãos passearam por todo o meu corpo, especialmente pelas coxas e glúteos, até alcançarem meus seios, onde permaneceram por alguns segundos. Ele partiu o beijo. 
– Tenho que admitir... Senti saudades disso – sua voz rouca denunciava seu estado de excitação quando abriu minha camisa, arrancando todos os botões de uma única vez. Deixei que minhas mãos passeassem por suas costas definidas enquanto ele procurava nas minhas o fecho do sutiã. Assim que o encontrou, a peça foi jogada pelos ares e seus olhos fitaram com ar de famintos os meus seios. Acariciou-os inicialmente com as mãos, revirando os olhos durante o processo. Depois abocanhou um deles e usou a língua.
 
Ninguém no mundo conseguiria me fazer sentir aquilo. Depois de tantas noites passadas com desconhecidos, pude confirmar o quanto o amor fazia diferença no sexo. Um simples toque me fazia delirar. Inevitavelmente gemi, estimulando-o a continuar.
 
Ele delineou o mamilo com a ponta da língua quente e depois partiu para o outro seio, fazendo o mesmo. Minhas mãos subiram por suas costas, levando a camiseta consigo, e ele teve que interromper a carícia por um momento para se livrar da peça de roupa. Admirada, avaliei seus músculos, agora vigorosamente maiores. Ele então subiu com alguns beijos e chupões até o meu pescoço e depois o lóbulo da minha orelha, exatamente como no sonho. Seria possível o cara ainda se lembrar do meu ponto fraco?
 
Excitada e ofegante, senti seu corpo pressionar o meu e foi possível sentir novamente a ereção dele por baixo das calças. Aquilo foi capaz de me matar. Desci minhas mãos para o cós de sua calça jeans e busquei a fivela do cinto, habilidosamente o removendo e em seguida abrindo o botão único da calça e o zíper. Quando alcancei o seu membro por cima da boxer, ele prendeu o ar e levantou o corpo para me encarar.
 
– Você não vai fazer isso – o rapaz disse incrédulo.
 
– Sim, eu vou – sorri sapeca e comecei a massageá-lo por cima da boxer, como costumava fazer para provocá-lo antigamente. Ele revirou os olhos e gemeu baixinho, com a expressão torturada. Tudo continuava como fora antes.
 
– Vai... Ter... Troco – disse torturado, tirando minha mão dali e prendendo meus pulsos aos lados de meu corpo com suas mãos fortes. Sorriu malicioso antes de me beijar e descer com beijos pelo meu corpo até minha cintura, onde parou e soltou meus pulsos para se livrar da minha calça, juntamente com a calcinha, e separar minhas pernas. Voltou seus olhos
 Castanhos para mim e acariciou meu clitóris com um polegar. Arqueando as costas, ri alto. Tudo como antes! E como eu sentira falta daquilo... 
Ele intensificou os movimentos antes de me penetrar com dois dedos, usando toda sua habilidade para me torturar, enquanto desceu os lábios para minha intimidade e estimulou o clitóris com a língua. Os meus dedos se crisparam, agarrando os lençóis, enquanto soltei um gemido quase raivoso pela quantidade de sensações e lembranças igualmente prazerosas que aquilo trazia. Fitei-o quase odiosamente, porém não consegui tentar impedi-lo. Ele continuou intensificando os movimentos e olhando em meus olhos, quase sorrindo de satisfação quando cheguei ao orgasmo em pouco tempo. Voltou a beijar toda a extensão de meu tronco até chegar à minha boca e me beijar quase com violência. A sua ereção por baixo da roupa sendo pressionada contra mim me deixou em êxtase. Nada superaria a sensação que aquilo me trazia e eu sabia disso.
 
Com as mãos e os pés agindo em conjunto, joguei suas calças para os pés da cama e voltei a massagear seu membro, agora por dentro da cueca. Ele gemeu contra meus lábios e passou a sugar os meus seios, enquanto minha mão livre se livrava de sua boxer e a outra o masturbava com uma dignidade quase profissional. Não que eu tivesse feito isso com outros caras, mas obtivera muita prática com ele e velhos hábitos não morrem. Correct?
 
Ouvi a respiração pesada dele acelerar, acompanhando a velocidade de meus movimentos, e então parei, não suportando mais o desejo de tê-lo dentro de mim outra vez. Como se lesse meus pensamentos, ele se posicionou melhor entre minhas pernas e, mantendo os olhos em contato com os meus, investiu. A violência de suas estocadas me levava a mundos distantes, onde prazer é a única coisa capaz de ocupar sua mente, mesmo quando dois olhos
 Castanhos refletiam como faróis acima de mim. Agarrei os cabelos em sua nuca e arranhei suas costas por diversas vezes enquanto ele investia energicamente. Houve um único momento de lucidez em que decidi mudar a situação e o fiz girar sobre mim, até que eu estivesse por cima dele. Suando e ofegando, porém disposta a fazê-lo sentir o mesmo prazer que me deu, movimentei meus quadris alternadamente, às vezes devagar, às vezes tão rápido quanto meus reflexos corporais permitiam, na maior parte do tempo, na velocidade das batidas do meu coração. 
Colaborando como podia por baixo de mim,
 Arthur segurava minhas coxas e às vezes meus glúteos, guiando meus movimentos. Depois de pouco tempo, ele nos girou e se colocou por cima de mim outra vez, estocando quatro ou cinco vezes antes de alcançar o ápice. Investiu mais duas vezes e então cheguei ao segundo orgasmo, sentindo-me no paraíso. 
Ele jogou seu corpo sobre o meu e sua respiração pesada e descompassada se uniu às batidas do meu coração. Um torpor profundo me tomou e fiquei ali, deitada sob
 Arthur, aproveitando ao máximo aquela sensação que só ele me fazia sentir. 
Algum tempo depois, ele rolou até ficar ao meu lado e abraçou minha cintura, puxando um dos cobertores sobre nós. É claro, depois disso, adormeci.
 
Em algum momento da manhã, acordei com muita fome – resultado de tanto esforço físico. Quando senti o braço de
 Arthur ainda ao redor de mim, sorri agradecendo por não ter sido um sonho. Soltei-me de seu abraço delicadamente, com medo de acordá-lo, e segui para o banheiro do quarto. 
Meu rosto, liberto das olheiras, agora que eu havia tido uma noite digna de sono, sem sonhos ou despertadores me acordando às cinco da manhã, parecia demonstrar o estado de felicidade em que me encontrava. Então eu ainda amava
 Arthur da mesma maneira que amei antes. 
Tomei um banho quente e me enxuguei com uma toalha branca que estava no banheiro. Enrolei-a no meu tronco e saí do banheiro, encontrando a cama vazia. Assustada, olhei ao redor e não o encontrei. Quando começara a cogitar a possibilidade de ter usado alguma droga alucinógena ou algo assim na noite anterior, tendo então uma falsa noite de sexo com
 Arthur Aguiar, o que era improvável àquela altura do campeonato, ouvi o som de passos descalços no corredor. Ele entrou no quarto vestindo uma boxer branca e trazendo uma bandeja com o nosso café da manhã. 
Aliviada, sorri para ele, não sabendo como agir. Algo que esse cara jamais antes fizera foi trazer café-da-manhã numa bandeja.
 
– Essa gentileza toda é um bônus? – perguntei, sentando-me na cama.
 
– Não. Você vai ter que pagar por isso depois e cobro juros altos – ele depositou a bandeja ao meu lado e me roubou um selinho. – Pode imaginar qual será a forma de pagamento? – perguntou, sorrindo sapeca. Preferi não responder enquanto meu rosto enrubescia, lançando-lhe um olhar reprovador e logo depois um sorriso que apenas desfez a intenção negativa do meu olhar.
 
Depois de comermos, quando pensei que era a hora do segundo round, ele me chamou para ver algo na sala. Acompanhei-o até perto da porta de entrada, percebendo que o corpo do cachorro sem nome de
 Arthur, o que eu havia matado só para chamar sua atenção ao bilhete, havia desaparecido. E minha adaga também. Ele se dirigiu até a casinha do cachorro e se agachou ali. 
– Está tentando me fazer me sentir culpada? – perguntei, estranhando. Ele apenas riu do meu comentário e acenou para que eu me juntasse a ele. Foi o que fiz.
 
– Tenho certeza de que procurou os diamantes por todo o lugar, menos aqui – disse, levantando a casinha e a removendo dali com facilidade. Havia um quadrado com carpete faltando exatamente onde anteriormente estivera a casinha. Fitei-o incrédula.
 
– O lugar mais improvável...
 
– Será sempre o mais seguro – ele completou. Era uma frase conhecida pelos componentes da
 rede. O rapaz então pressionou um dos lados do quadrado que afundou com um estalo e em seguida se recolheu para o lado, revelando o interior de um cúbico de pelo menos um metro de profundidade e dois de largura cheiro de sacos de lixo pretos. Busquei um deles e desfiz o nó. Havia diamantes dos mais variados dentro dele. Olhei de Arthur para os diamantes, boquiaberta. 
– Esta é a maior parte. Tem uma casa de praia no Brasil, uma no meu nome, o verdadeiro nome, onde guardei o restante. É para lá que vamos – ele disse simplesmente. Após alguns segundos tentando assimilar o que acabara de ouvir, franzi as sobrancelhas.
 
– Está dizendo que vamos... Morar juntos? – perguntei incrédula.
 
– Se você aceitar, é claro. Quero ficar ao lado da única pessoa capaz de me fazer feliz. E com todo esse dinheiro...
 
– Não vamos precisar matar mais ninguém – completei. Ele sorriu encantador, confirmando. – Eu aceito.
 


Fim?

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